PENSAR COM O FÍGADO II

 Aproveitei o "figão zangado"* para escrever alguns pensamentos ligeiros:

 *https://espiritismosec21.blogspot.com/2023/03/pensar-com-o-figado.html

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Alegria: é a felicidade que tem pressa de passar.

Bajulador: é o interesseiro inseguro.

Bondade: virtude que os homens acham que têm.

Canalhice: é viver do trabalho alheio e reclamar que está recebendo pouco.

Classificação 1: classifica-se de ladrão, bandido, a pessoa pobre que furtou algo; mesmo que esse “algo” seja um punhado de comida.

Classificação 2: classifica-se cleptomaníaco[1] a pessoa rica que furtou algo e é tratada como alguém que sofre de transtorno comportamental o qual demanda ajuda psicológica, hospitalar, medicamentosa.[2]

Criticidade: é uma forma de pensar o mundo com simplicidade, mas sem ser simplista.

Dinheiro: é o símbolo daquilo que compra quase tudo.

Dor: é descobrir que a pimenta esfregada no próprio olho não é refresco.

Fuxiqueiro: é quem gosta de revelar segredos cabeludos dos outros para esconder os seus.

Gula: alguém que comprou 100 hectares de terra para construir o seu túmulo.

Guerra: é a agressividade coletiva revelada sem retoques diplomáticos.

Médico: ⁠Os médicos são homens que prescrevem remédios que pouco conhecem, para curar doenças que conhecem menos ainda, em seres humanos que eles desconhecem inteiramente.[3]

Mentira: a mentira é uma verdade. E é verdade que as pessoas mentem.

Morte: é a última linha, da última página do livro da contingência.

Paz: intervalo entre duas guerras[4].

Humildade: quando revelada pelo seu possuidor é a mais notória vaidade[5].

Indiferença: é a mais pura expressão de crueldade.

Pobreza: é condição daquele que só tem dinheiro.

Religião: é a verdade customizada.

Riqueza: é o equilíbrio entre querer e ter[6].

Odiar: é dar muita importância aos desafetos.

Ódio: sentimento muito forte sem o qual não teríamos noção do que poderia ser o amor.

Otimismo: é você acreditar que amanhã será um novo dia. (será que os dinossauros pensaram nisso um dia antes da queda do asteroide de 10 km de diâmetro no golfo do México?[7])

Paradoxo 1: agência funerária estar fechada por motivo de luto.

Paradoxo 2: eu sempre minto[8].

Paradoxo 3: professor de escola pública matricular o filho em escola particular.

Pessimismo: É melhor ser pessimista do que otimista. O pessimista fica feliz quando acerta e quando erra[9].

Neutralidade: é uma forma requintada da covardia.

Sabedoria: quem diz que sabe o que é sabedoria está mentindo.

Tacanhice[10]: é tentar, por longo tempo, aprender uma segunda língua. Ao final e ao cabo, não aprender a segunda língua, ter esquecido a primeira e acabar mudo.

Tautologia[11]: pessoas inventarem um deus e depois crerem que esse mesmo deus as criou.

Traição: é o resultado do afago excessivo[12].

Traído: é aquele que deu motivos de sobra para chegar a essa condição[13].

Traidor: é aquele que pensa em se matar com punhaladas nas costas[14].

Tristeza: companheira de quem pensa o mundo com profundidade.

Vergonha[15]: é o que sentimos quando uma parte de nós se revela sem nosso consentimento.

Inveja: sentimento abrupto quando você descobre que aquele colega de trabalho, muito chato, ganhou uma bolada na loteria.

Raiva: sentimento que surge quando aquele mesmo colega o convida para uma festa de despedida.

Sonho: Acredite no seu sonho luminoso. Enquanto isso, é aconselhável ir pagando em dia a fatura da companhia que fornece energia elétrica.

[1] Em Psiquiatria, é a pessoa que sofre de uma compulsão para roubar.

[2] É óbvia minha intenção em ironizar uma situação que se apresenta na esteira de uma sociedade dividida por aquilo que, em Sociologia, costuma-se chamar de “distância social”, mas que pode, sim, ser um sério transtorno de ordem psicológico-comportamental em alguns indivíduos.

[3] François-Marie Arouet mais conhecido como Voltaire (1694-1778) demonstrava pouco apreço pelo exercício da medicina. Em outra ocasião vai dizer: A arte da medicina consiste em distrair o paciente enquanto a Natureza cuida da doença.

[4] Frase encontrada numa revista onde se discutia a agressividade humana por estudiosos do assunto.

[5] Jamais um autêntico humilde saberá que o é. Se souber, já será vaidade em curso.

[6] Independentemente da quantidade de bens que alguém venha a ter, se esta pessoa quer o que tem, e tem o que quer, guardadas as necessidades básicas para uma vida digna, ela desfrutará de riqueza. Ao mínimo sinal de insatisfação, mesmo que haja milhões guardados em cofres, já se revelará alguém vivendo uma vida empobrecida no tutano.

[7] Calcula-se que esta pedra que atingiu a Terra há cerca de 65 milhões de anos foi responsável pela extinção dos dinossauros.

[8] Pego carona no chamado Paradoxo de Eubulides. Se quando digo “eu sempre minto” for verdade, então nem sempre minto; se, por outro lado, de fato, estou mentindo, não há razão para acreditar na afirmação.

[9] Millôr Fernandes nome artístico de Milton Viola Fernandes (1923-2012).

[10] Estreiteza mental.

[11] Tautologia: giro de linguagem.

[12] Pessoa que costuma investir muito numa relação acreditando que o outro fará tudo o que ela exatamente deseja tem grande possibilidade de se sentir traída, embora não haja uma traição cabal do outro a sua frustração fará o trabalho para o surgimento daquele sentimento.

[13] Faço referência a Nelson Rodrigues: “perdoo-te por eu ter te traído.” Há, aqui, uma inversão proposital da condição dos envolvidos. Numa análise mais profunda perceberemos que o traído construiu uma relação com o traidor na qual este foi motivado por aquele a trair.

Numa leitura rápida acusa-se Judas de ter traído Jesus. Mas observe esse trecho de João, capítulo 13-27:

Assim que Judas comeu o pão, Satanás entrou nele. Então disse-lhe Jesus: “O que tens para fazer, faze-o logo.” Todavia, nenhum dos que estavam à mesa entendeu por qual razão Jesus lhe disse isso. … (destaque meu)

Não foi um pedido de Jesus; foi uma ordem.

[14] Ideia inspirada no jornalista e escritor Leon Eliachar.

[15] Tida como um dos sentimentos básicos do ser humano. Adão foi motivado pela vergonha a esconder-se de Deus, no Éden, por ter comido o fruto proibido e, em seguida, sentiu-se nu. A compreensão da "nudez". neste caso, pode ser entendida como o desvelamento da alma de alguém.