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Mostrando postagens de setembro, 2019

PAUSA PARA OUVIR - Handel

Georg Friedrich Händel (23/02/1685-14/04/1759) https://www.youtube.com/watch?v=JSAd3NpDi6Q

UM POUCO SOBRE O AMOR - Parte I

27/09/2017 Estais perguntando o que é o amor. Estamos dizendo que poderemos encontrá-lo quando soubermos o que ele não é                                               Jiddu Krishnamurti – “A luz que não se apaga” ICK Por mais que eu tenha lido e refletido sobre o Amor acompanhando estudos de Freud [i] , Winnicott [ii] e inúmeros nomes da investigação do psiquismo humano jamais me tornarão um amoroso pela via da razão.   O Amor não pertence ao campo do racional. Tudo aquilo que aprendi através de livros e palestras e artigos não me torna um amoroso. E caso me esforce para isso, o Amor também me escapará porque ele não surge de um exercício mental, por contenção de espírito, por meditação ou outro artificialismo qualquer. O Amor não obedece a regras ditadas por um guru, um espírito superior, um avatar; sua natureza difere de tudo o que entendemos por amor de acordo com a expressão do pensador indiano Krishnamurti. As vias pelas quais o Amor poderá surgir são suti

CONVENÇÕES

10/08/2018 O Dia dos Namorados para mim é todo dia. Não tenho dias marcados para te amar noite e dia. Carlos Drummond de Andrade Por convenção, aniversários são comemorados uma vez por ano. Nada contra as convenções, elas foram e são criadas para facilitar a vida de todos nós e de pôr um pouco de ordem no caos. É o caso da unidade de massa utilizada universalmente em todos os setores da vida - o quilograma. Uma convenção formalizada em 10 dezembro de 1799 e, até aonde sei, está sendo estudada uma maneira de impor mais precisão à medida pela constante de Planck. Imaginem se não se convencionasse que quando um farol estivesse vermelho a coisa mais sensata a fazer seria parar? Contudo, por ser uma convenção, nada impede que a modifiquemos (não no caso do farol vermelho, é claro). Eu acho que devemos passar a desejar saúde, prosperidade e grande alegria a todos os que amamos diariamente, não anualmente. Como dizia o velho padre Vieira: o amor não tem por quê e ne

CULPA - Parte II

18/08/2017 A (quase) exigência de ser bom, perdoador, resignado, compreensivo, otimista e alegre o tempo todo só seria cabível se não fôssemos humanos; e, pior, é fonte de normopatia. Discursos desse tipo abrem um abismo entre a realidade interior e o humano idealizado. Com isso o sujeito estrebucha no limbo e é atirado em uma zona acinzentada na qual procura sair, desesperadamente, na primeira porta que se abre – essa porta pode ser representada por uma das diversas correntes religiosas, ideologias de variados matizes as quais, não raro, prometem alívio e salvação do sofrimento intenso e constante. Pode ser que os apelos dessas correntes tragam conforto para o desgraçado – o que não é de todo ruim, mas não resolvem aquilo que foi recalcado, “despejado” no inconsciente, cuja manifestação pode ocorrer a qualquer tempo e em qualquer lugar de forma potencializada as quais acabam em explosões de ira incontrolável, de insatisfação profunda, de miséria espiritual subjacente, de

CULPA - parte I

17/08/2017 A culpa é um sintoma no qual a consciência começou a operar no psiquismo daquele que, pouco antes, agia por impulso, em determinado campo, e sem nenhum limite. Para ser mais direto: é aquele que vivia no piloto automático e, de repente, descobre que está com o manche nas mãos. A culpa pode levar a um estado de espírito onde as funções da responsabilidade começam a vicejar. Contudo ela não é, necessariamente, a via pela qual o sujeito que vivencia esse mal-estar deve dar um passo à frente para fazer desse sentimento algo positivo, caso contrário transformar-se-á em algo muito pior do que a ignorância propriamente dita – o remorso. O remorso é um sentimento de auto-condenação, de necessidade de reparo urgente. Ele fere a alma profundamente deixando-a doente caso não haja caminhos de reparação e quando não encontra essas vias de “purgação”, por várias razões, acaba paralisado na auto-comiseração. No topo de estados ruins da alma, sem dúvida, está o ressentimen

A PAZ

06/07/2019 Assistindo ao diálogo de duas grandes e respeitáveis pessoas - Mario Sérgio Cortella e a Monja Coen, pelo lançamento do livro de autoria de ambos “Nem anjos nem demônios”, em determinado momento eles falam de paz (e justiça). Segue o link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=hDW6tyk2bpU Lembrei-me de um trecho do evangelista João: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.”                                                                   João 14:27 Jesus diz a todos nós que nos deixa a paz, nos dá a paz, nos doa a paz. As perguntas que naturalmente surgem são: 1)    É possível receber a paz de alguém; ou de outra  forma, é possível que doemos paz a alguém, caso a  tenhamos? 2)   A paz existe em nosso mundo? Ou seria um simulacro de paz? Alguém já afirmou: “paz é o intervalo entre uma guerra e outra no qual os generais escrevem suas memórias”. Então,

PAUSA PARA OUVIR - Chopin

Frédéric Chopin (01/03/1810 - 17/10/1849) Nocturne in B flat minor, Op. 9 no. 1

O CAMINHO DA SALVAÇÃO

06/12/2016 Um diálogo entre Krishnamurti e a mulher que perdera o marido o qual deixara uma grande fortuna, mas não menor vazio pela sua morte me mostrou como montamos defesas internas para aguentar a dor de perdas irremediáveis. Aquela mulher sofrida, explicava ao pensador indiano que, para “preencher” o buraco provocado pela ausência de seu companheiro criara uma fundação beneficente para aliviar a dor da perda e, apesar da alegria em ajudar muitas pessoas necessitadas, não conseguia alcançar o fim desejado. Krishnamurti, com seu jeito peculiar de quem nunca brincava em serviço e não tinha a mínima intenção de mimar ninguém, disse-lhe: “nessas condições, é melhor você fechar a instituição”. A pobre mulher rica reagiu: “e o que eu ponho no lugar?!”; resposta de Krishnamurti: “Nada, porque qualquer coisa que você colocar no lugar será uma simples troca de objetos e não resolverá o seu problema de fundo.”. Uma leitura superficial da atitude de K pode levar à falsa ideia

JESUS - ENTRE O AMOR E A JUSTIÇA

A nossa forma de amar é quase sempre injusta, se não for sempre injusta. De acordo com este raciocínio, há sempre um descompasso entre o amante e o amado, simplesmente porque ainda não sabemos amar. Nesse contexto, como entender Jesus ao afirmar que o Amor é lei maior? Ainda mais que o seu pensamento ligava-se, visceralmente à cultura judaica na qual o Rabino Nilton Bonder afirma que a Lei maior para o Judaísmo é a Justiça, e não o Amor como preconiza o Cristianismo. Como conciliar a afirmação feita por Jesus de que, para sermos bem-aventurados, temos de ter a Justiça como necessidade básica: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos ( Mateus 5:6 )? Posso estar enganado na minha leitura, mas Jesus se interpõe entre a Justiça e o Amor, em outras palavras é na intercessão da Justiça e do Amor onde Jesus se situa. Quando amo mais a mim do que ao próximo, sou egoísta; quando, ao contrário, amo mais o próximo do que a mim, sou generoso.

Tempus Fugit - Rubem Alves

O que me motivou a homenagear o "Seu" Ary imediatamente à sua morte, deve ter sido inspirado no texto que segue abaixo somado à gratidão guardada vivamente em minha alma. Não sei, mas posso ser punido por publicar crônica de autoria de Rubem Alves Tempus Fugit , Editora Paulus, 1990, mas valerá o risco. TEMPUS FUGIT Rubem Alves Eu tinha medo de dormir na casa do meu avô. Era um sobradão colonial enorme, longos corredores, escadarias, portas grossas e pesadas que rangiam, vidros coloridos nos caixilhos das janelas, pátios calçados com pedras antigas. De dia, tudo era luminoso, mas quando vinha a noite e as luzes se apagavam, tudo mergulhava no sono: pessoas, paredes, espaços. Menos o relógio. De dia, ele estava lá também. Só que era diferente. Manso, tocando o carrilhão a cada quarto de hora, ignorado pelas pessoas, absorvidas por suas rotinas. Acho que era porque durante o dia ele dormia. Seu pêndulo regular era seu coração que batia, seu ressonar e suas mús

RAPADURA É DOCE, MAS NÃO É MOLE

19/04/2019 Diz o ditado popular: rapadura é doce, mas não é mole . Fácil de entender isso, porque esse dito popular refere-se à vida neste mundo; todos nós comemos dessa rapadura. Quem quiser abraçar um tipo pouco atraente de espiritualidade – me refiro àquilo que chamo de “Espiritualidade Profunda” – deve, antes de tudo, saber que a medida se dá por 99% de suor e 1% de inspiração. Isso mesmo que você leu: na proporção 99 X 1. A chamada “boa nova” do Cristo não é muito boa para aqueles que acham que podem transferir suas responsabilidades para Deus, Jesus, os espíritos protetores, os santos, orixás e similares. Jesus joga uma pá de cal no argumento e no modus operandi daqueles que assim se comportam. Essa pá de cal vem da ideia simples (mas complicada) do Reino de Deus dentro de nós. Para descobrirmos essa instância, dada no ensino do Mestre, é preciso muito mais do que longas orações, mantras melodiosos, palavras de ordem, obediência a gurus e seus caminhos, simu

TEMPUS FUGIT - Homenagem ao "Seu" Ary

Há muitos anos, em Santo Tomás de Aquino – cidadezinha do estado de Minas Gerais, a família Nazar me recebeu em sua casa num período de grande debilidade física e fragmentação psicológica. Aquele momento de minha vida foi muito significativo, porque a forma como a família toda me tratou, inclusive meu irmão Adilson então marido de uma filha daquele grupo familiar fizeram com que eu recuperasse minha autoestima perdida pelos caminhos tortuosos da vida. O “seu” Ary Nazar – dono da casa que me recebera – era uma pessoa especial: simples nos modos, mas cheio de sabedoria, protagonista de histórias interessantes, às vezes trágicas e às vezes cômicas. Com orientação claramente espírita, criara um grupo cuja finalidade era ajudar pessoas daquele pedaço de Minas, fosse com pão, fosse com amparo espiritual. “Seu” Ary mantinha um negócio de venda de produtos agrícolas, depois de muitos anos trabalhando como caminhoneiro, por esta razão possuía, no escritório de sua loja, uma escriv

APEGO E O CAMINHO DO MEIO

28/08/2018 Em uma de suas 4 Nobres Verdades, Buda ensina que o apego é a fonte de nosso sofrimento . Essa simples e quase óbvia constatação do Buda embute um enorme desafio e uma urgente forma de observar nossas tendências normalmente escondidas nas profundezas da alma. A constatação, de que ao final perderemos tudo que orbita em torno de nossa existência – dada a inexorável transitoriedade - é, em si mesma, o processo pelo qual imergimos no sofrimento. João, o batista, informa aos seus seguidores que o seu primo – Jesus - seria alguém que batizaria a todos, não com água como ele próprio fazia, mas com fogo ( Mateus, 3-11 ). Eu entendo esse “fogo” como o meio pelo qual os nossos valores habituais seriam incinerados - um deles o apego. Neste passo do texto evangélico, citado acima, fica evidente que o ensino do Cristo não é para mimados e gente que busca espiritualidade em workshops. Ora, se somos apegados – e quanto mais apegados, infere-se, maior o grau de sofri

RELIGIOSIDADE BUROCRATIZADA

22/09/2017 Muita gente confunde os termos “religião” e “religiosidade”. Entretanto, são coisas distintas. Por um lado religião indica um conjunto de crenças conduzido por um grupo maior ou menor de pessoas que simpatiza e acredita na verdade daquele conjunto de crenças e realiza rituais e liturgias; por outro lado, religiosidade seria a prática de uma determinada filosofia religiosa ou não necessariamente religiosa: uma pessoa pode ser ateia, agnóstica, não pautar a sua vida em crenças ou dogmas específicos, mas ter uma prática ético-moral que se aproxima do que há de mais nobre nas religiões. Sob olhar interno, atento e interessado venho observando uma persistente burocratização dentro dos espaços espíritas que me incomoda bastante. Não que essa burocratização seja desnecessária de todo - já disse em outro lugar que temos de pautar nossas relações institucionais por uma disciplina, por um estatuto e por uma organização mínima possível para que o funcionamento dessas instituiç