Richard Westall - A Espada de Dâmocles (1812)
21/02/2023
Se você já leu minha hipótese sobre o livre-arbítrio, apresentada anteriormente, vai entender minha suspeita sobre nossa liberdade de
agir.
https://espiritismosec21.blogspot.com/2023/02/livre-arbitrio-100-de-1-versao-longa.html
Para os espíritos pragmáticos essa hipótese é como “mamão com
açúcar”, porque tira um peso enorme de responsabilidade sobre seus ombros.
Afinal, são 99% culpa alheia e somente um 1% de culpa própria.
Aceitando-se a hipótese de termos uma janela muito estreita
de liberdade para escolher, é necessário fazer as seguintes perguntas:
O que fazemos com essa escassez de liberdade?
Qual é a medida de nossa responsabilidade na economia das
escolhas?
Essa pergunta parece redundante, mas não podemos esquecer que
há, sim, um manejo próprio da vontade nas escolhas.
Ao contrário do que pensam os pragmáticos, o peso desse 1% na
liberdade de escolha é enorme. Explico:
O conhecimento dessa escassez tem dois aspectos importantes: alivia o sentimento de culpa do “pecado” eventualmente cometido e "previsto" pela dita “lei de causa e efeito” o qual redunda em reencarnações
punitivas, e, também, do medo de errar. Ao mesmo tempo põe uma espada de Dâmocles[1]
sobre a cabeça do agente da ação pelo compromisso em administrar bem aquela
escassez de liberdade. Em termos matemáticos, a cada escolha livre que se faz,
equivale a 99 vezes as que não se faz livremente. Esse é o desafio. Não tem
almoço grátis.
Inclui-se nessa hipótese a tese defendida por Barry Schwartz[2]
que, diante de tanta oferta de produtos de consumo, afirma ele que o poder de escolha é fonte de angústia. Ao se
confirmar minha tese do 1% de liberdade de escolha, a proposta de Schwartz é perturbadora,
porque dentro desse corredor estreito de possibilidades ainda existe espaço
para a angústia! É mole?
Qualquer erro cometido dentro dessa faixa estreitíssima
apontada na tese do 1%, qualquer escolha importante que se faça terá consequências no futuro, como vai remexer o
passado, ressignificando-o e impactando o presente.
Isso posto, não é difícil inferir que, uma vez aceita a hipótese de escassez de liberdade a que estamos sujeitos como espíritos encarnados, é preciso rever o conceito de "justiça divina" posta em livros doutrinários e romances espíritas que apontam o inferno de Dante para aqueles que "pecam" enquanto estão com os pés fincados na Terra.
E se formos negligentes no uso dessa escassez, morreremos
como se fôssemos um aglomerado de vísceras, sangue, pele e ossos e mais nada.
Difícil? Quem disse que seria fácil?
[1] Dâmocles é um
personagem lendário, cortesão que invejava o rei Dionísio pelas facilidades que
possuía naquele posto. Dionísio percebendo sua inveja decide trocar de lugar
com ele, mas colocou sobre a sua cabeça uma espada afiadíssima pendurada apenas
por um fio do rabo de um cavalo para simbolizar o peso das responsabilidades do cargo. Ao experimentar aquela arriscada posição, apressadamente
pediu para o rei que retornasse ao seu posto de origem.
[2] Barry Schwartz é um
psicólogo norte-americano dedicado à Teoria Social e Ação Social. Entre outras
obras, escreveu um livro, aqui citado, O Paradoxo da Escolha – porque mais é
menos. O exemplo é o do consumidor que entra em um supermercado
para comprar um molho de tomate e, dentre dezenas de marcas e tipos, escolhe um
e, apesar da decisão, sai de lá incomodado com a suspeita angustiante de não
ter escolhido o molho certo. Agora, leve isto a escolhas de maior peso como uma
profissão, um negócio, uma casa, um país onde morar, um casamento etc. A
liberdade de escolha aumenta dentro de um regime democrático e liberal ao mesmo
tempo que a angústia também aumenta na medida em que o leque de opções cresce. Daí a ironia da frase popular:
“não sei se caso ou se compro uma bicicleta”.
Entre a espada e a angústia opto por esse paradigma:
ResponderExcluir– Mestre, como faço para me tornar sábio?
– Boas escolhas.
– Mas como fazer boas escolhas?
– Experiência.
– E como adquirir experiência?
– Más escolhas.