
O Beijo da Morte
Cemitério Poblenou, Barcelona - Espanha[1]
A origem do termo “finados” vem do latim “FINIS” que
significa “fim”. Verbo finar = findar, morrer.
A celebração do Dia de Finados tem origem numa abadia na
cidade de Cluny, França. Instaurada por Santo Odilon (962-1049).
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Ontem, foi “Dia de Finados”. Para celebrar essa data há
costumes para todos os gostos. Um deles, muito estranho para nossa cultura, vem
dos Torajans – Indonésia[2],
que mantêm o cadáver dentro de casa e o tratam como se estivesse “doente” e não
morto.
Outra maneira de lidar com a morte vem da arte tumular com
suas esculturas impressionantes, como é o caso do “Beijo da Morte”, em
Barcelona, Espanha. É uma obra para se sentar e admirar por um bom
tempo, em silêncio.
São formas de driblar a realidade que entra pela porta da
existência sem pedir licença.
Apesar dos argumentos robustos que a doutrina espírita oferece aos seus adeptos – que vão além dos dogmas religiosos – traz, em sua base, a observação dos fenômenos espíritas espontâneos e empíricos confirmatórios da existência do espírito e sua individualidade depois da morte.
Quando a morte chega, causada por uma doença terrível, dolorosa
e prolongada, a chance é grande para os que ficam em aceitá-la com mais
serenidade. Contudo, quando o fim chega precocemente – como no caso do rapaz
homenageado pelo pai em seu túmulo em Barcelona a aceitação é mais pungente e
de difícil cura.
Quanta gente já se beneficiou do conforto dado por mensagens
enviadas de entes queridos desaparecidos de maneira precoce e violenta, via sonhos,
ou por meio mediúnico!
Entretanto, mesmo com as ferramentas que a Doutrina Espírita
oferece aos seus adeptos, ainda assim há e haverá um resíduo de incerteza diante
da morte; haverá sempre uma dose não desprezível de angústia, porque segundo a
narrativa bíblica da expulsão do Éden, o homem é o único bicho na Terra que
sabe de sua finitude. É só ler o Gênesis capítulo 3, onde Deus expulsa o homem
e a mulher por desobedecerem às ordens divinas:
19 No suor do teu rosto
comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque
tu és pó e ao pó tornarás.
Portanto, uma das condições desagradáveis para o ser humano é de
saber que vai morrer. É essa condição que o faz um bicho carregado de uma
angústia de fundo que não sara. Tomo a palavra de Nietzsche – que por outras
razões vai dizer:
O homem é um animal doente porque é um animal não fixado, o
mais flexível, mais mutável e mais inseguro de todos.[3]
É verdade que os espíritos dizem a Kardec uma coisa que pode
trazer para nós um certo alívio; necessário, admito, mas não suficiente.
- A separação da alma e do corpo é dolorosa? Pergunta Kardec.
- Não; o corpo, frequentemente, sofre mais durante a vida que
no momento da morte; neste, a alma nada sente.[4]
Respondem os
espíritos.
A incerteza do que ocorre conosco depois da morte é penosa
para todos nós: quem garante que sabe o que vai ocorrer depois do passamento, ou é vaidoso, ou é
mentiroso.
Existe um outro dado importante para se colocar nessa balança
infernal: o apego. Todos nós somos, de certa maneira, apegados. E nesse ponto
Krishnamurti é bastante elucidativo:
Não temos medo da morte por causa do desconhecido; temos dela
medo por conta da perda do conhecido.
Millôr Fernandes demonstra sua aflição diante da morte por
uma visita ao cemitério, com o seguinte Hai Kai:
Passeio aflito;
Tantos amigos
Já granito.
Difícil? Quem disse que seria fácil?
[1] https://tourism.com.de/pt-pt/escultura-beijo-da-morte-em-barcelona-espanha-foto-descricao-historia/
[3] Nietzsche,
Genealogia da Moral.
[4] O
Livro dos Espíritos, questão 154.
Fico com Krishnamurti admitindo a fonte de minhas angústias...
ResponderExcluirQdo meu pai partiu, meu dolorimento vinha do pensamento de que ele não veria mais as belezas deste lugar onde estamos...e é um pensamento que me atormenta, também, porque, apesar de termos que este é um mundo de "provas e expiações", amo viver!!!
A doutrina espírita nos traz alento, mas...
Quantos finados vivenciados e outros tantos infindáveis nos lembrarão da infinitude da consciência imortal!?! Não há ponto final que não se transforme em ponto e vírgula ou reticências. Até ponto de interrogação ou ainda mesmo exclamação! O arbítrio é do próprio ser espiritual.
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