A nossa forma de amar é quase sempre
injusta, se não for sempre injusta.
De acordo com este raciocínio, há sempre um
descompasso entre o amante e o amado, simplesmente porque ainda não sabemos
amar.
Nesse contexto, como entender Jesus ao afirmar que o Amor é lei maior? Ainda mais que o seu pensamento ligava-se,
visceralmente à cultura judaica na qual o Rabino Nilton Bonder afirma que a Lei
maior para o Judaísmo é a Justiça, e não o Amor como preconiza o Cristianismo.
Como conciliar a afirmação feita por Jesus
de que, para sermos bem-aventurados, temos de ter a Justiça como necessidade
básica: Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça, porque eles serão fartos (Mateus 5:6)?
Posso estar enganado na minha leitura, mas
Jesus se interpõe entre a Justiça e o Amor, em outras palavras é na intercessão
da Justiça e do Amor onde Jesus se situa.
Quando amo mais a mim do que ao próximo,
sou egoísta; quando, ao contrário, amo mais o próximo do que a mim, sou
generoso. Ambas as formas são injustas conforme afirma Flávio Gikovate. Ambas
se anulam pela busca de resultados, e segundo Vieira, em seu Sermão do Mandato o amor fino não há de ter porquê, nem para
quê.
Ama-se, verdadeiramente, quando não se quer
atingir fins – é o amor intransitivo, que não pede objeto, diferentemente do que indica a gramática.
É o amor configurado na concepção de Paulo, o apóstolo, Krishnamurti e Ubiratan Rosa. O amor que basta-se a si mesmo.
Para nós, seres humanos, amar assim ainda é
um mistério...
Desconfio que esse seja o Amor justo
aclamado por Jesus. Aquele no qual não há descompasso, não há objeto, muito
menos injustiça; aquele no qual o sujeito ama o próximo como a si mesmo e é
feliz.
Difícil? E quem disse que seria fácil?
De acordo. Amor justo e justiça amorosa. Agir com o outro como gostaríamos que agissem conosco. Quando fazemos isso já estamos amando e sendo justos.
ResponderExcluirVocê fez uma interessantíssima costura, Humberto, com as considerações de Jesus e as de Bonder, Gikovate, Vieira, Krishnamurti, Rosa acerca de amor e justiça.
ResponderExcluirQuero compartilhar algumas perguntas que me fiz neste ponto do seu texto: o descompasso entre o amante e o amado se deve ao fato de ainda não sabermos amar.
Basta que amemos do amor que basta-se a si mesmo para estarmos em compasso com o amado? Ou ainda, para que esteja em compasso, o amado precisa amar do amor que basta-se a si mesmo ao mesmo tempo que seu amante – considerando que este amor não é sujeito a oscilações de disposição, de intensidade etc de ambos? É por não sabermos amar que identificamos a indesejável injustiça causada pelo descompasso? Não precisaríamos ser mais inocentes, mais puros para experimentarmos a felicidade de amarmos ao próximo como a nós mesmos, independentemente da condição da pessoa que amo?
Prezada Mônica, bom dia.
ExcluirNo meu entendimento, podemos amar do mesmo modo que alguém ama, mas jamais amaremos com a mesma intensidade, porque, desculpe a redundância, cada um manifesta os seus afetos de maneira muito particular.
No caso do "amor intransitivo" não haverá expectativa nenhuma do amante em relação aos amados, porque esse amor não será direcionado a alguém, especificamente. O objeto do amor inexiste.
Por fim, dado o nosso condicionamento psicológico, nossa carga de pendências existenciais não temos condições de amar intransitivamente, ainda.