O que me motivou a escrever
este texto?
Foi
a leitura do livro “Por que ética é mais importante do que religião” parceria do Dalai Lama e o jornalista Franz Alt.
Pelas
tantas, Franz Alt informa que um intelectual alemão perguntou ao Dalai o
seguinte: “Sua santidade, como posso chegar à Iluminação depressa?” Ele
respondeu: “O melhor a se fazer é ir ao médico e tomar uma injeção.”
A
leitura que faço dessa resposta de Sua Santidade é: para atingir a iluminação,
aqui na Terra, o melhor caminho é viver eticamente na imanência, sem
preocupações metafísicas.
Lembrei-me
de duas passagens dos Evangelhos que, para mim, relacionam-se com a resposta do
Dalai:
E louvou aquele senhor ao
injusto mordomo por haver procedido com sagacidade; porque os filhos deste mundo são mais sagazes para com a sua geração do
que os filhos da luz Lucas, 16:8
Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e
feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do
servo era Malco. Mas Jesus disse a Pedro: põe a tua espada na bainha; não
beberei eu o cálice que o Pai me deu? João 18:10-11
(destaques
meus)
A
orelha do servo não foi cortada pela mão de Pedro, mas pela espada que o discípulo
carregava - esse detalhe é importante. Jesus não se manifesta contrário
à ideia de um discípulo seu carregar uma arma, mas sim o pouquíssimo
entendimento da situação demonstrado por Pedro.
Nota-se
que havia certo cuidado do grupo mais próximo de Jesus em rechaçar possíveis ameaças tanto de animais
selvagens, quanto de malfeitores, bem como manter sua integridade física, a não
ser imaginemos Pedro carregando uma arma
letal como simples adereço – o que seria uma estupidez. Esse é um claro sinal
da preocupação com a imanência - no caso da resposta do Dalai seria "o caminho da iluminação começa pelo cuidado com a saúde", além de desmontar crenças em torno de Jesus: coisas do tipo: "estou com Jesus, portanto estou protegido de tudo e todos."
Contudo,
há outro trecho do episódio narrado que sinaliza uma preocupação de Jesus em
manter um espírito ético mesmo em uma situação tão grave. Ele adverte o discípulo
e pede-lhe para embainhar a espada. De novo é curioso notar a atitude de Jesus
ao pedir a Pedro que embainhe a espada e não a atire fora - a espada tinha lá a sua utilidade.
A
narrativa evangélica faz pensar...
Apesar
da preocupação em defender o Mestre, Pedro demonstra pouco entendimento aos
ensinos recebidos, mesmo estando em sua companhia por um bom tempo. O Mestre
sabia que, mesmo sendo injusto, o homem que fora prendê-lo estava apenas
cumprindo ordens na condição de servo do sumo sacerdote.
Com
tudo isso, seria natural que os religiosos devessem construir um mundo (físico)
com o governo da ética e ordem (ver Russel Kirk).
Enquanto
encarnados nossas preocupações devem estar a serviço do cotidiano, agindo com o
mais puro espírito ético sem a ideia de investimentos na vida futura. A cada dia basta o seu mal disse Jesus.
Viajei muito na maionese?
Viajei muito na maionese?
Nota:
antes que defensores do desarmamento venham me acusar de ativista da liberação
das armas, quero informar que meu foco está na maneira como se comportam alguns
espiritualistas em relação a este mundo e o “desprezo” pelas coisas ditas
mundanas. Comportando-se assim, esses espiritualistas acabam vivendo o que
deveria ser deixando de aproveitar inteligentemente o que é.
Não tem nada pior do que um beato antiético. Soa como a dancinha da petista comemorando a não condenação do amigo corrupto. Nada tão cafona quanto trágico.
ResponderExcluirQuanto a João 18:10-11, Simão Pedro, que detinha o conhecimento, desembainhou-o para o servo Maluco, que ainda não tinha "ouvidos de ouvir" e que, por talvez não ser o momento oportuno para tal, Jesus o adverte para que embainhe a seu conhecimento, já que ele, por tê-lo desembainhado, sofreria duras consequências.
Talvez eu tenha extrapolado a imanência, já que o "não ter ouvidos de ouvir" é uma transcendência.
Obrigado mano Sóste por contribuir com nossas reflexões.
ExcluirAbraço fraterno
*servo Malco
ResponderExcluirNada deste mundo é imundo em si, seja arma, dinheiro, poder, o que for, mas a forma do uso é que pode torná-la imunda. Aí entra a importância da ética nesta vida material. Ouvi uma frase outro dia: pode haver ética sem espiritualidade, mas não espiritualidade sem ética. Não confundir espiritualidade.com religiosidade.
ResponderExcluirPrezada ou Prezado Unknown. Obrigado por contribuir para nosso esclarecimento.
ExcluirO senso comum chama de "coincidência" o que Jung chamaria de "sincronicidade" - dá na mesma. O fato é que, ontem, fiz um rascunho sobre esse aspecto que você tratou com muita propriedade - espiritualidade, ética e religiosidade.
Vou ver se dá tempo de publicar o que escrevi, ainda hoje.
Abraço fraterno.
Texto maravilhoso, irretocável, brilhante. É o que posso dizer.
ResponderExcluirObrigado caro Auri
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