Carta
dirigida aos meus filhos
22/11/2018
Aprendi
a desconfiar daqueles que, constantemente, dizem amar alguém.
A
mãe definitivamente não pertence a esse grupo de pessoas.
Em
todos esses anos de convivência com ela percebi que o seu amor se revela por
sutilezas que exigem uma aguda observação...
Ao
sair de casa, pela manhã, a mãe percebe a vacuidade que deixa para trás: nossa
cachorrinha Piri está inquieta,
acabrunhada e isso vai durar até a sua volta, porque para a Piri a ausência da
mãe será eterna enquanto dure.
Para
mim, a saudade me abraça com toda força e me deixa em estado de suspensão. Amor?
Não saberia dizer, talvez posse; não sou capaz de amar como ela: sou bruto,
espinhento, amargo. Certamente meu lugar está reservado em regiões mais escuras
e frias do mundo espiritual - mais por afinidade do que por opção.
Reconheço,
contudo, que ela está fazendo uma das coisas que mais gosta - mexer com plantas,
ajudando a construir um espaço rural. Se isto a deixa feliz, então cresce em
mim o alívio da saudade – aquela mesma definida por Rubem Alves: saudade é a presença da ausência.
Desconfio
daqueles que, constantemente dizem “te amo” pelo simples fato de que o Amor é
indizível. Por isso entendo o silêncio da mãe em seus pequenos gestos diários –
mensagens de amor a quem desfrute de sua companhia.
"O Amor é indizivel". Por isso a melhor forma de demonstra-lo é pelos gestos de carinho, de cuidados, de compaixao. Ah, que saudade sinto de minha mãe! Ela era tufo isso.
ResponderExcluirDe que vale dizer "eu te amo" se a boca não fala do que está cheio o coração? Maravilhoso o "eu te amo" que transborda do coração...sobrevive ao tempo e fica registrado na memória. Amar e deixar transbordar amor no olhar, no gesticular, no fazer, no cuidar, e no falar. Precisamos disso!
ResponderExcluirAdorei Humberto, parabéns! Também é a minha maneira de dizer o "eu te amo"... cuidando.
ResponderExcluirObrigado pelas palavras Pai! Maravilha! Abraços
ResponderExcluirAgradeço a todos pelos comentários; que possamos refletir muito sobre este assunto tão importante. Abraços.
ResponderExcluirEnquanto você falava da mãe e do seu jeito peculiar de expressar amor já me vinham sons e cheiros da minha memória infantil misturados aos da minha própria experiência de ser mãe, fazendo ressurgirem sentimentos de dor e felicidade, frustração e êxtase; mas quando cheguei às suas palavras "Certamente meu lugar está reservado em regiões mais escuras e frias do mundo espiritual - mais por afinidade do que por opção" eu as li como se eu própria as tivesse escrito e chorei, doloridamente. Aí me perguntei: como é possível experimentar o frio e a escuridão e ao mesmo tempo sentir a força do amor e expressá-lo como faço com meus filhos e netas? Sim, eu digo frequentemente que os amo, basta às vezes apenas olhá-los nos olhos e o coração se aquece e pede por expressar-se.
ResponderExcluirCara Mônica, obrigado pela coragem e confiança em repartir seus afetos com a gente.
ExcluirAbraço fraterno