Havia um fariseu chamado Nicodemos, uma autoridade entre os judeus.
Ele veio a Jesus, à noite,
e disse: "Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode
realizar os sinais milagrosos que estás fazendo, se Deus não estiver com
ele".
Em resposta, Jesus
declarou: "Digo a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer
de novo".
Evangelho de João, capítulo 3 versículos de 1 a 3
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Reforma
Íntima ou Revolução Espiritual?
Por que mudar não é apenas se ajustar, mas transfigurar-se
Hoje,
20/07/2025, amanheci pensando em um tema que há bastante tempo povoa minha
cabeça: a cultuada reforma íntima.
Há
uma discussão, dentro do meio espírita, de que Kardec jamais utilizou essa
expressão. Trata-se, segundo alguns estudiosos, de um jabuti* inserido
pelo próprio movimento espírita brasileiro.
*O termo vem de uma frase atribuída ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Ulysses Guimarães, que dizia que "jabuti não sobe em árvore. Se está lá, ou foi enchente ou foi mão de gente".
Os
que criticam essa ideia argumentam que Kardec foi claro ao afirmar:
“Conhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral.”
E fazem questão de frisar que transformação é bem diferente de reforma.
Reformar é suficiente?
No
campo espiritual, nem tanto.
A meu ver, é preciso ir além de uma reforma.
O
paralelo marxista como provocação
[Utilizo-me
da teoria marxista apenas como contraponto à ideia de reforma, não como
pregação ideológica.]
Em
termos marxistas, as reformas dentro do capitalismo são frequentemente
criticadas por não resolverem os problemas estruturais do sistema, mas apenas
amenizá-los — ou até mesmo reforçá-los.
Os
marxistas veem as reformas como tentativas de melhorar o sistema capitalista
sem atacar suas raízes de exploração e desigualdade.
Se transportarmos essa crítica para o campo espiritual, poderíamos dizer algo semelhante: a reforma íntima, tal como é geralmente apresentada, pode se tornar um processo de adaptação ao “sistema interior” vigente — à manutenção de padrões já estabelecidos, apenas um pouco suavizados, mais polidos, mais aceitáveis aos olhos da moral dominante.
Mas será que o espírito está aqui para adaptar-se? Ou para transfigurar-se?
A verdadeira necessidade: uma revolução íntima
A
meu ver, o que precisamos realizar é uma revolução íntima — algo que se
aproxima bastante do que o próprio Kardec evocava quando falava em
transformação moral profunda.
A
diferença entre a revolução marxista e a revolução espiritual é clara:
- A primeira se
inscreve no campo do materialismo histórico.
- A segunda se
processa no campo íntimo de cada um.
Isso não é pouco — e, certamente, não é fácil.
Quatro
pilares da revolução espiritual
Realizar
essa revolução exige:
- Empenho, porque o
trabalho de revolução espiritual exige uma atenção aguda de si mesmo em
todos os momentos da vida.
- Humildade, para refletir
sobre o engano que é impor nossos valores aos outros como se fossem
verdades absolutas.
- Coragem, porque
qualquer revolução espiritual exige uma ruptura com o que está
estabelecido — com o tradicional, com o que se tornou cômodo e que já não
serve mais como base da existência.
- Compreensão do
lugar no Cosmos,
porque essa compreensão nasce da distinção entre o que acreditamos ser
permanente e o que, na verdade, é transitório.
Basta observar o próprio corpo: aquilo que nos parece estável — nossa identidade física, por exemplo — é profundamente instável. Com raras exceções, as células do nosso organismo são continuamente substituídas ao longo do tempo. É essa renovação incessante que mantém a vida — vertiginosamente dinâmica. [ver quadro abaixo][1]
“Nascer de novo” — mas não no sentido comum
Quando
o Mestre disse ao doutor do Sinédrio e guardador da lei mosaica que:
“É
preciso nascer de novo”,
Um rompimento radical com a velha tradição — que, sim, cumpriu seu papel histórico, mas tornou-se anacrônica. Ele falava de uma visão mais ampla da vida, que exige constante renovação — como as células do nosso corpo, que se renovam sem cessar para que a vida prossiga.
Difícil? Quem disse que seria fácil?
[1] Taxa de renovação das principais
células do corpo
Tipo de célula |
Tempo médio de renovação |
Observações |
Células da pele (epiderme) |
2 a 4 semanas |
São renovadas constantemente para proteger
contra agressões. |
Células intestinais (epitélio) |
2 a 5 dias |
Altíssima renovação devido ao desgaste pela
digestão. |
Células do sangue (hemácias) |
100 a 120 dias |
Produzidas na medula óssea; recicladas
principalmente no baço. |
Leucócitos (glóbulos brancos) |
Horas a poucos dias |
Altamente variáveis: neutrófilos duram
horas, linfócitos podem durar anos. |
Plaquetas |
8 a 10 dias |
Fragmentos celulares renovados rapidamente. |
Células musculares |
Anos (e parcialmente regeneráveis) |
Não se dividem com frequência; podem ser
reparadas por células satélites. |
Células hepáticas (fígado) |
300 a 500 dias |
Renovação lenta, mas o fígado tem grande
capacidade regenerativa. |
Células do tecido ósseo |
10 anos (renovação total do esqueleto) |
Os ossos se remodelam constantemente, mas
bem lentamente. |
Células adiposas (gordura) |
8 anos |
Renovação relativamente lenta. |
Células do cristalino do olho |
Nunca (não se renovam) |
São as mesmas desde o nascimento. |
Neurônios do cérebro |
Em geral, não se renovam |
Algumas áreas (como o hipocampo) geram novos
neurônios, mas raramente. |
Células cardíacas |
Renovação muito lenta |
Pouca regeneração ao longo da vida (1% ao
ano em média). |
Fluxo e refluxo da vida, tal qual o intervalo das marés.
ResponderExcluirSomos o que somos, e paradoxalmente deixamos de ser o que éramos.
À peculiaridade do nosso ir e vir, ser e não ser, fazer e refazer, pego emprestado o pensamento do escritor Guimarães Rosa no discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, no mesmo ano que nasci, em 1967:
"Fino, estranho, inacabado, é sempre o destino da gente."
Sigamos.
Ah! Muito boa a tabela com a tipificação das 12 categorias de células no organismo.