“Este povo honra-me com os
lábios, mas o seu coração está longe de mim.”
(Mateus 15:8)
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Desde
que Jesus passou por aqui, há mais de dois mil anos, aqueles que se consideram
representantes de Deus na Terra falam do exemplo de desprendimento de sábios
como Buda e o próprio Mestre, mas a maioria revela uma enorme avidez por
dinheiro, poder e fama.
Apesar
da sua compaixão, o Mestre já os advertia de maneira contundente.
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“E quando você não consegue
mais habitar na solitude do seu coração, passa a viver nos lábios — e o som
torna-se uma distração e um passatempo.”
Khalil Gibran
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O título que escolhi para este texto poderia inspirar teses de doutorado em Filosofia, Psicologia, Sociologia ou Psicanálise, mais pelo tema do que pelo que escrevi. Portanto, este assunto é bastante amplo.
Gostaria,
porém, de recordar Ubiratan Rosa, que, ao tornar-se viúvo e já muito idoso, foi
morar no Abrigo Bezerra de Menezes, mantido pela Associação Espírita
que leva o mesmo nome, no bairro da Penha de França, zona
leste de São Paulo — local onde, por muitos anos, foi diretor.
Cultivo profunda gratidão por esse pensador e o admiro não apenas pela sua envergadura intelectual, mas também pela vasta cultura e pela simplicidade com que se dirigia às multidões que, todas as segundas-feiras, se reuniam ansiosas para ouvir sua palavra calma, pausada e eloquente. Ele abordava temas variados, muitas vezes complexos, usando uma linguagem acessível a um público diverso.
É
isso que faz um sábio: oferecer o prato do alimento espiritual da teoria com o
tempero inconfundível da prática e da modéstia — aquilo que os filósofos chamam
de práxis[1].
Ao
lembrar de Ubiratan Rosa, vejo sua atitude como o rosto concreto da antítese do
farisaísmo atual.
Essa
mistura de teoria e prática dá o sabor duradouro e delicioso causado pelos seus
ensinamentos — como a própria palavra “sábio” indica (do latim sapidus, “aquele
que tem sabor”).
Sinto
um arrepio na espinha ao suspeitar que as ideias pelas quais julgo viver e aqui as ponho em forma de palavras sejam apenas sons despejados pela boca, mas que a alma não sustenta, representando apenas distração e passatempo.
Difícil?
Quem disse que seria fácil?
Obrigado,
Ubiratan.
Descanse
em paz.
[1] O termo "práxis" pode ser entendido como uma associação entre
a teoria e a ação em sua forma mais fundamental, com conotações que variam
entre a prática concreta e a ação transformadora.
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