É impressionante como tantas pessoas desejam saber o que foram em vidas passadas e qual será o seu destino após a morte física.
Sei
bem que o animal humano é extremamente curioso — e foi essa curiosidade que o
impulsionou a realizar grandes empreitadas, como o prolongamento da
longevidade; o desenvolvimento de medicamentos contra infecções; técnicas
extraordinárias no campo da computação; descobertas notáveis na Astronomia,
entre outras.
Essa curiosidade a que me refiro é muito bem-vinda nos domínios da ciência, da filosofia, da psicologia e da religião, mas há um certo limite que, se ultrapassado, pode trazer não apenas um acréscimo de sofrimento como também, por que não dizer, uma considerável perda de tempo?.
Na
literatura espírita de apelo fácil, encontramos verdadeiros tratados
descrevendo como será nossa vida após a morte, incluindo o “lugar” para onde
seremos levados conforme nossas atitudes em vida.
Acontece
que, para aqueles que se dedicam a refletir um pouco mais sobre nossas
condições aqui na Terra, é evidente que quase sempre nos deparamos com inúmeros
obstáculos, moldados por diversos fatores que já abordei neste blog. Por isso,
torna-se extremamente difícil afirmar com precisão qual será o “destino” de
cada um após a morte física.
E se insistirmos em saber, acabamos dando de frente com uma parede intransponível — e ainda levamos o ônus de um aumento desnecessário de angústia, o que pode nos conduzir a um comportamento carregado de afetações e rigidez, na esperança de, ao morrermos, encontrarmos um lugarzinho menos escuro e frio — como aqueles que imaginávamos na infância.
Nessas
condições, nossa existência na Terra se transforma num arremedo desprovido de
conteúdo real. Como zumbis, deixamos de viver a vida em sua plenitude e
passamos a sofrer sob a ansiedade de uma vida que ainda não chegou — e que
talvez jamais chegue.
Henry David Thoreau — poeta, naturalista, pesquisador, historiador, filósofo e transcendentalista — já dizia: por mais encantador que seja o mundo pintado pelos teólogos para aqueles que cruzam os umbrais da morte, e por mais árduo e hostil que seja este em que nos encontramos, é preciso viver um mundo de cada vez.
Um
religioso dogmático poderá indagar: então você está negando a existência de um
outro mundo para o qual iremos após a morte? Isso não seria uma negação da
Doutrina Espírita?
Não.
Não nego. Em primeiro lugar, porque a doutrina espírita — tal como a compreendo
— não é uma caixa fechada cheia de regrinhas que devemos seguir mecanicamente.
Em segundo, porque qualquer pessoa com mais de um neurônio em atividade entende
que a vida na Terra é tão rica e repleta de experiências que mal conseguimos
processá-las por completo. Sabendo disso, o Mestre afirmou: “a cada dia bastam
os seus desafios”.
Por acaso ele disse a cada dia de amanhã?
Para
encerrar, deixo, aos que me leem, um trecho do Evangelho de Mateus, que me
parece oportuno para nossas reflexões:
Naquele momento,
aproximou-se de Jesus a esposa de Zebedeu, trazendo consigo seus dois filhos e,
prostrando-se diante d’Ele, fez-Lhe um pedido.
“O que desejas?”,
perguntou Jesus.
Ela respondeu: “Ordena
que, no teu Reino, estes meus dois filhos se assentem um à tua direita e o
outro à tua esquerda”.
“Não sabeis o que estais
pedindo!”, replicou Jesus.
“Podeis vós beber o cálice
que estou prestes a beber e ser batizados com o batismo com que estou sendo
batizado?”
E eles responderam:
“Podemos!”
Então Jesus lhes disse:
“De fato, bebereis do meu cálice; mas quanto a sentar-se à minha direita ou
à minha esquerda, isso não me compete conceder. Esses lugares pertencem àqueles
para quem foram preparados por meu Pai”.
Mateus, capítulo 20:20-23 (destaque é meu)
Nota: como vimos no texto de Mateus, nem o Mestre, nem ninguém sabe o que nos aguarda. A “reserva com assento numerado” feita por Deus pode ser compreendida à luz das leis que regem a vida — leis estas que conhecemos muito pouco, ou quase nada.
Qualquer tentativa no sentido de saber como será nossa vida depois da vida será como correr atrás do vento como diria o Eclesiastes.
Difícil?
Quem disse que seria fácil?
Uma das lições que mais trabalhei em mim, refleti, remexi, foi sobre o viver o tempo de hoje, sem a preocupação do que será depois q partirmos deste plano. O tema morte me é muito dolorido...não lido bem com despedidas, ausências, perdas, com certeza, por isso, a busca da Doutrina Espírita, por me dar o afago q necessito de que tudo não se encerra só nisso! ( embora minhas angústias com relação às perdas e partdas e ausências continuem as mesmas...nem em terapia...). Mas o viver 1 dia de cada vez, e fazer nesse dia o seu melhor, me parece o melhor caminho para pensar o meu lugar aqui. E verdade, não é fácil, Humberto! Abs, eliane
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