10/02/2025 segunda-feira
Nota: peço a você que me lê
tome um copo de água fresca misturada com paciência, porque o relato é um pouquinho
comprido.
Então, senta que lá vem história...
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Neste último final de semana, eu e minha companheira, estivemos reunidos na casa de um velho amigo.
O encontro foi especial por várias razões; duas delas foi a presença de outra amiga de longa data e de um casal que se juntou a nós para nos conhecer pessoalmente – já tínhamos contato por meio eletrônico no estudo da teoria espírita.
Fazíamos uma refeição quando fui estimulado a contar um acontecimento familiar:
Contei-lhes
que, no início de 1950, uma mulher soube que estava grávida do quarto filho. A
notícia causou-lhe grande angústia e preocupação dada as condições materiais
precárias em que vivia naquele momento.
Ao
saber da situação, uma vizinha sugeriu que a mulher procurasse uma determinada
farmácia onde poderia receber orientação e medicamento que pararia o processo
gestacional, porque ela mesma havia comprovado a eficácia do procedimento numa
gravidez indesejada que tivera.
De
posse do endereço, aquela mulher sai em direção à dita farmácia quando lhe vem
uma vontade quase irresistível de, antes, passar num centro espírita que funcionava
próximo à sua casa, em busca de alívio da pressão que sentia na alma.
Lá
chegando, senta-se no fundo do salão com outras mulheres e crianças que
esperavam atendimento e orientação.
A
liderança do trabalho de atenção cabia à Dona Angélica – poderosa médium psicofônica
e clarividente que, no exercício mediúnico era secundada por dois espíritos:
um, Padre José Teixeira; outro, o médico Doutor Francisco Novaes.[1]
Naquele
dia, a orientação coube ao Dr. Francisco Novaes que, entre outras coisas, disse,
por via psicofônica, da oportunidade sagrada dada às mulheres em se tornarem
mães.
A mensagem atingiu a alma daquela pobre mulher angustiada que, em seguida,
procurou a Dona Angélica para contar-lhe sua situação.
Como
sempre, Dona Angélica a tratou com atenção e carinho acolhendo-a e orientando-a
a evitar o aborto.
Dessa maneira, no dia 17 de dezembro de 1950 nasce um menino que recebeu o nome de registro “Humberto Spina” – este que escreve essa pequena história.
Uma grande emoção tomou conta de mim ao contar aos meus amigos essa aventura e com muita dificuldade contei-lhes a confirmação da ação dos espíritos naquela historinha:
Quarenta
e tantos anos se passaram, eu residia na cidade paulista de Franca. Sentados
num dos muitos bancos do salão do centro espírita do Jardim São Luiz, onde se
oferecia sopa aos necessitados, conversando com o grande médium José de Paula
Virgílio, “Zé Paulo”, como era conhecido, olhou para minha mãe e disparou: “como
os espíritos nos ajudam, não é mesmo, minha irmã?” E completou apontando para
mim: “você se lembra do nascimento deste menino?”.
Como
aquele homem que pouco ou nada sabia de nossa história conseguiu resgatar algo
que pouquíssimas pessoas da família sabiam, se não fosse a sua grande capacidade
de contato com os espíritos?!
Para mim, que estudo Espiritismo há muitos anos, não foi difícil lembrar da resposta dos espíritos a Allan Kardec, no Livro dos Espíritos, questão 459:
Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
Mais do que imaginais, pois com bastante frequência são eles que vos dirigem.
O Livro dos Espíritos, Parte Segunda, Capítulo IX - Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos
Longe de querer transformar essa história num dramalhão qualquer[2], ao terminar o relato, senti lágrimas rolarem no meu rosto e minha voz embargada pela avalanche de emoções que tomava minha alma ao poder contar esse episódio de minha biografia; a possibilidade de estar em companhia de minha companheira e amigos queridos que se mantiveram em profundo silêncio respeitoso; por observar os laços de amizade e alegria se apertarem entre nós motivados pela comensalidade – comer entre amigos é um prazer poucas vezes sentido em nossas existências atravessadas pelas relações virtuais.[3]
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Concordo
com o neurocientista Miguel Nicolelis ao dizer que a Inteligência Artificial
jamais alcançará a capacidade que o cérebro possui.[4]
Acho oportuno, neste passo de nossa conversa, citar um trecho do livro “Sociedade Paliativa” do filósofo coreano radicado na Alemanha Byun-Chul Han que diz:
A inteligência artificial é apenas um aparelho de cálculo. Ela é, de fato, capaz de aprender, também capaz de “deep learning” [aprendizado profundo], mas ela não é capaz de [ter] experiência. Apenas a dor metamorfoseia a inteligência em espírito. Não haverá nenhum algoritmo da dor. Só a grande dor, a longa e lenta dor que toma seu tempo é, segundo Nietzsche, a última libertadora do espírito [A Gaia Ciência].
Em
nota colocada por mim na leitura desse trecho, escrevi: “se algum dia tivermos
robôs que chorem, esse “choro” será previamente produzido por cálculos de
programadores e não pela experiência vivida e pela espontaneidade.”
As milhões de sinapses e a plasticidade com que esses processos se dão estimulados pela dança dos neurotransmissores e a beleza de tudo isso formam um conjunto que dificilmente algoritmos criados pelo homem poderão superar – uma delas, chorar de emoção ao contar uma história comovente, apesar da dificuldade que temos em traduzir em palavras aquilo que sentimos – a palavra nunca alcança o real significado da ideia, conforme escreve o poeta Augusto dos Anjos:
A ideia
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e, depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
Difícil? Quem disse que seria fácil?
[1] Psicofonia é a capacidade que o médium tem de servir de intermediário
dos espíritos através da fala. Clarividência é a capacidade mediúnica de ver,
continuamente, os espíritos.
[2] Dramalhão: drama que se
alonga à custa de um excesso de lances trágicos e de tensões emocionais de toda
sorte; melodrama.
[3] Comensalidade é o ato de
compartilhar alimentos e refeições, ou seja, de comer em conjunto. É uma
prática que está presente desde os tempos de caça e coleta, que é
característica do Homo sapiens.
[4] Miguel Ângelo Laporta Nicolelis
é um médico e cientista brasileiro, considerado um dos vinte maiores cientistas
em sua área no começo da década passada pela revista de divulgação Scientific
American.
Você, os amigos e a tecnologia digital
ResponderExcluirVocê
Humberto possui o significado de "brilho de gigante".
Suas reflexões das alturas dos mirantes atestam a legitimidade do seu tamanho!
Amigos
Vou valer-me de outro sobrenome Anjos, o da M° Beatriz Marinho dos Anjos em "O laço e o abraço", e transcrever este excerto do poema:
"Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!"
Tecnologia digital
A humanidade está à léguas de priorizar o espiritual, é tudo artificial (I.A.), virtual (redes sociais) e metal (grana).
Veio para ficar, mas por ser novidade tem sido utilizada basicamente por fim comercial (disputa por algoritmos).
O legal dela é poder se comunicar, fazer vídeo chamada, driblar a distância e a saudades daqueles que nos são caros ao coração.
Um 'brinde' ao vínculo espiritual, lá e cá!!