Para quem não sabe o que significa cada letra da sigla LGBTQIA+:
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais, Assexuais, sendo que o símbolo “+” abarca as demais orientações sexuais e de gênero, representando pluralidade.[1]
Essa sigla nasce de um movimento iniciado na década de 60, nos Estados Unidos, para reivindicar direitos para essa população. Através desse movimento foi possível garantir aqueles direitos.
A bandeira que representa esse grupo de pessoas possui as cores do arco-íris que representam: Vermelho: vida. Laranja: cura. Amarelo: luz do Sol. Verde: natureza. Anil: harmonia/serenidade. Violeta: espírito humano.
+++++++++++++++++
O que me levou a este tema tem muitas pontas. Não caberá aqui enumerá-las todas.
Uma dessas pontas está relacionada com a recente tentativa de alguns parlamentares de orientação evangélica, de proibir a união de pessoas do mesmo sexo. Sugiro a leitura de matéria publicada no Estadão de 16/09/2023, que mostra, em linhas gerais, a discussão em torno deste assunto[2].
É triste ver grupos de religiosos, com cadeiras no Congresso Nacional, quererem impor a todo povo brasileiro pauta de costumes – que não resta dúvida, cabem debates, mas que não devem se tornar “lei” num estado reconhecido pela Constituição Brasileira como laico e democrático.
O fato é que, propositalmente ou não, o termo “homossexualismo” - já banido do quadro de doenças psiquiátricas pela OMS[3], ainda flui das bocas desses parlamentares, de boa parte de religiosos, inclusive de alguns espíritas. Seria por ignorância, por preconceito, por interesses políticos, ou tudo isso junto e misturado? Difícil saber.
Lembro-me que, muitos anos atrás,
li o ensaio[4] do
antropólogo Peter Fry onde expõe dados importantes sobre a homossexualidade, e nele
faz a clara distinção entre os termos “homossexualidade” e “homossexualismo”.
Fry explica que a homossexualidade é natural não só entre seres humanos, mas que é verificada entre animais não-humanos.
O projeto de lei que quer pôr fim às uniões homoafetivas traz retrocesso civilizatório, porque, como lei, vai funcionar para todos os brasileiros sejam eles evangélicos ou não. Inclusive ateus.
A meu ver, sob o ponto de vista jurídico, esse é o problema dessa lei. Juristas como Ayres Britto[5] afirma que, se aprovada no Congresso, essa lei é natimorta. Apesar da evidente ineficácia dessa lei, esses ataques à civilização reverberam nas redes sociais e alimentam o ódio, o rancor, o preconceito, à perseguição àqueles que não se alinham com essa pauta moral religiosa.
Em que fonte esse pessoal tarado por pautas de costumes busca apoio? Na Bíblia, é óbvio. O caso emblemático é a destruição de Sodoma e Gomorra constante no Antigo Testamento[6].
Não tem cabimento um espírita aceitar que Deus – a Inteligência
Suprema teria destruído essas cidades, segundo narrativa bíblica, por conta da
moralidade humana[7].
Ou esse espírita é preconceituoso - precisa de um aconselhamento terapêutico, ou é burro mesmo.
O Livro dos Espíritos trata a Lei divina como lei natural[8]. Por inferência, se a homossexualidade faz parte da natureza – humana inclusive, como afirma o antropólogo citado acima e é consenso entre as mais diversas categorias de profissionais da saúde, então por que criminaliza-la baseada em dados históricos, culturais?
Destaco um trecho do livro Atos dos Apóstolos onde Gamaliel[9] fala ao seu discípulo Saulo de Tarso e os que o acompanhavam na tarefa de perseguir cristãos, matando-os:
Se o propósito ou atividade deles for de origem
humana, fracassará; se proceder de Deus, vocês não serão capazes de impedi-los,
pois se acharão lutando contra o próprio Deus.
Atos 5:34-39
Embora a maioria dos brasileiros se diz cristã, não é tão difícil entender que nem todos os brasileiros seguem essa agenda religiosa, e que uma parte desses cristãos não aprova esse retrocesso.
Lembrando que o Cristianismo tem como base a chamada “Lei de Amor”, é muito estranho. paradoxal até, notar que esses cristãos não aceitem o amor entre pessoas do mesmo sexo ao tentar restringir o mais nobre sentimento humano à prática sexual – tentativa de encaixotar o espírito humano dentro da genitália.
É sintomático observar que religiosos dessa estirpe propõem a “cura gay” evidenciando a já ultrapassada ideia de que homossexualidade como doença e, por ser uma patologia, poderá ser curada.
Pode ser que essa ação desse grupo reacionário tem raiz ancestral, atávica na qual não havendo a possibilidade de reprodução entre dois indivíduos do mesmo sexo, não haverá a possibilidade de transmissão de carga genética aos descendentes.
Acontece que estamos no século XXI depois de Cristo, e não no século XXI antes de Cristo. Erro semântico, cronológico ou estreiteza mental?
Não é difícil juntar as partes citadas: a Lei Divina como Lei Natural; o recado do sábio Gamaliel àquela gente que queria exterminar os cristãos que traziam uma nova conduta para o mundo; o que diz Peter Fry sobre a natureza da homossexualidade e a mínima noção do que é Estado laico e concluir que se trata de pauta anacrônica.
O que esperar de gente que nega a eficácia de vacinas; afirmam que a Terra é plana; odeia religiosos de matriz africana; acredita mais no Diabo do que em Deus?
Fácil entender, não? Quem disse que seria difícil para quem tem mais de dois neurônios funcionando?
Pós-escrito
Fiz a seguinte pergunta ao ChatGPT[10]:
Fale sobre homossexualismo e homossexualidade
A resposta veio em fração de segundo:
ChatGPT
Claro, vou explicar o conceito de homossexualismo e
homossexualidade, embora seja
importante notar que o termo "homossexualismo" está caindo em desuso
e é considerado antiquado e potencialmente ofensivo. A terminologia mais
atual e respeitosa é "homossexualidade". Vou explicar ambos os
termos:
Homossexualidade: A homossexualidade é uma
orientação sexual em que uma pessoa sente atração romântica, emocional e/ou
sexual por indivíduos do mesmo sexo. É uma parte natural da diversidade humana e não é uma escolha.
Pessoas que se identificam como homossexuais podem ser gays (homens atraídos
por homens), lésbicas (mulheres atraídas por mulheres) ou bissexuais (atraídas
por pessoas de ambos os sexos). A homossexualidade não é uma doença mental, e a Organização Mundial da
Saúde (OMS) retirou-a da lista de distúrbios mentais em 1990.
Homossexualismo: O termo
"homossexualismo" costumava ser usado para descrever a orientação
sexual homossexual. No entanto, esse termo foi amplamente abandonado em favor
de "homossexualidade" devido a várias razões. "Homossexualismo"
implicava que a homossexualidade era uma condição patológica ou uma escolha, o
que é cientificamente impreciso e prejudicial. Além disso, o sufixo
"-ismo" sugere uma ação ou prática, enquanto a homossexualidade é uma
característica inerente da orientação sexual de uma pessoa.
É fundamental respeitar a identidade e a orientação sexual das pessoas, independentemente de sua orientação ser heterossexual, homossexual, bissexual, ou qualquer outra. A homossexualidade não deve ser estigmatizada, discriminada ou tratada como algo negativo. Todos têm o direito de amar e expressar sua identidade de gênero e orientação sexual livremente, desde que seja consensual e respeitando as leis locais. O respeito pela diversidade sexual é uma parte essencial da promoção dos direitos humanos e da igualdade. (Os destaques são meus).
Até a inteligência artificial já opera na consciência desse fato natural e incontornável da natureza humana.
[1] Quem quiser fazer uma consulta rápida sobre o tema,
sugiro a página da UOL
[2]Matéria
no Estadão:
[3] Foi em 17 de maio de 1990 que a Organização Mundial da
Saúde retirou a homossexualidade do quadro de patologias.
[4] “O que é Homossexualidade”, Editora Brasiliense, Peter
Fry e Edward Macrae.
[5] Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto é um professor,
escritor, jurista, advogado, magistrado e poeta brasileiro. Foi ministro do
Supremo Tribunal Federal de 2003 a 2012, tendo sido presidente daquela corte e
do Conselho Nacional de Justiça em 2012.
[6] Segundo o Antigo Testamento (Génesis, 18-19), Sodoma e Gomorra, duas cidades situadas junto ao Mar Morto, sofreram o castigo divino da sua destruição pelo fogo e pelo enxofre, provavelmente durante um terramoto, pelo comportamento sexual perverso e aberrante dos seus habitantes.
[7] Moral vem do latim “mores” que significa “costume”.
Costumes mudam com o tempo. São datados. Fazem parte da cultura e não da
natureza das coisas.
[8] O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, das Leis
Morais, Capítulo I Da Lei Divina ou Natural.
[9] Gamaliel: famoso rabino do século I. Foi
preceptor de São Paulo quando este ainda era doutor da lei e conhecido como
Saulo de Tarso.
[10] ChatGPT trata-se de inteligência artificial desenvolvida
pela empresa OpenAI e que busca responder perguntas dos usuários colhendo dados
em várias plataformas da Web.
Pelo horário tardio, peço licença para acrescentar apenas um pensamento (desconheço a autoria) que reforça o seu prestimoso texto:
ResponderExcluir"Eu não quero casar com uma pessoa do mesmo sexo. É meu direito.
Eu não quero que você case com uma pessoa do mesmo sexo. É intolerância e preconceito.
Eu proíbo que você case com uma pessoa do mesmo sexo. É fascismo e inaceitável."
Tantas urgências básicas a serem priorizadas e esse retrocesso fala muito do nível imoral dos ditos defensores... do quê mesmo?
Haja fígado! Ops! Não é mais aqui o post figadal.