Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2019

HÁ SALVAÇÃO FORA DA CARIDADE - Parte 3

"Todas as ações são egoístas, motivadas pelo interesse.” Esta teoria é muito difundida: existem versões dela no behaviorismo, na psicanálise, no marxismo vulgar, no pensamento religioso e na sociologia do conhecimento. No entanto, é claro que esta teoria e com ela todas as suas variantes, não é falsificável: nenhum exemplo de ação altruísta pode refutar a ideia segundo a qual existiria nela uma motivação egoísta oculta.                                         Karl Popper em O realismo e a Ciência. Pensando bem, aqueles que se dedicam à caridade beneficente [1] devem saber que não fazem grande coisa, porque o bem feito pela troca de outro bem (no caso espírita a “salvação”) é um bem menor; o bem maior é aquele que se troca por um mal. [2] Gibran [3] coloca essa questão em xeque o sentimento que brota das entranhas do doador ao dizer que o doador é apenas testemunha do ato de doar , ou seja, ninguém doa nada a ninguém, porque ninguém tem posse de nada, ou possuind

PAUSA PARA OUVIR - Marcello

Alessandro Marcello (1669-1747) https://www.youtube.com/watch?v=E0BalQMrVDU&list=RDE0BalQMrVDU&start_radio=1&t=0

PAUSA PARA OUVIR - Beethoven

PICRYL The World's Largest Public Domain Source   Ludwig van Beethoven (17/12/1770-26/03/1827) Concerto No. 5 in E-flat major, Op. 73 Adagio Un Poco Mosso

NÃO JULGAR E O PERDÃO - Aspectos ocultos

21/01/2017 Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados; e com a medida que medirdes vós sereis medidos. E por que tu observas o cisco que está no olho do teu irmão, e não percebes a viga que está no teu próprio olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, e, eis uma viga no teu próprio olho? Hipócrita, tira primeiro a viga do teu olho, e então verás com clareza para tirar o cisco do olho do teu irmão. Mateus, 7: 1-5 +++++++++++++++ É possível viver sem julgar? Há perdão sem julgamento? O julgamento e o perdão são irmãos siameses. [1] Muita gente diz não julgar ou que julgar não é bom. Essa gente não percebe que agindo assim, o julgamento já está em curso – o autojulgamento de ser incapaz, ou incompetente em fazer julgamentos; e essa conduta ou modo de pensar têm várias nuances: 1)     Medo de julgar para não ser julgado: é uma maneira sutil de escapar do medo de ser julgado. 2)   

PEDIR É INÚTIL OU DESNECESSÁRIO

“... porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes”. [1]      Jesus. Pedí, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á.  Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.  Ou qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra?  Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente?  Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhas pedirem? Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas. [2]    Jesus. ******************************** Sendo criança, se você possuísse um pai muito inteligente e que soubesse de suas demandas mais importantes, haveria a necessidade de pedir-lhe que as atendesse? Se você concorda que a premissa acima é razoável, imagine que este “pai” seja Deus – o qual, segundo os espíritos , é “inteligê

UM POUCO SOBRE A MORTE

17/07/2017 Morte, ponto final da última cena, Forma difusa da matéria imbele, Minha filosofia te repele, Meu raciocínio enorme te condena!                                                Augusto dos Anjos em “Cismas do Destino” [1] No Livro dos Espíritos, base da doutrina Espírita, Allan Kardec dedica algumas questões ao tema “morte” [2] . Lá, Kardec a chama de “Retorno da Vida Corpórea à Vida Espiritual”. Parece um eufemismo, mas essa expressão é sintomática, porque o Espiritismo – como doutrina – trata exatamente da sobrevivência da alma após a morte física; logo, a morte em si não existe. Apesar desse conforto trazido pela doutrina, não é fácil encarar a morte como algo natural, até para espíritas mais convictos. Como eu disse anteriormente em outro texto Buda entendera que há quatro situações ou acontecimentos que nos levam ao sofrimento: nascimento, doença, velhice e morte. À primeira vista, isto parece óbvio, mas a análise budista desses temas aprofund

PAUSA PARA OUVIR - Debussy

Claude Debussy  (1862-1918) https://www.youtube.com/watch?v=-ziJ6T3H8-I

A MÍSTICA DOS PEQUENOS GESTOS

29/01/2018 Conta a tradição da ordem das carmelitas que ao preparar alguns ovos para a refeição de suas companheiras, Santa Teresa de Ávila [1]  entrou em êxtase. Ao voltar do êxtase diante da perplexidade das irmãs disse: “Em meio às panelas, também anda o Senhor” Assim como outras denominações religiosas e filosóficas o Budismo é uma potente ferramenta de autoconhecimento e ajuda nos conflitos naturalmente presentes no cotidiano. Filosoficamente, eu considero o Budismo da linha Nitiren muito prático, bem diferente da linguagem encontrada na filosofia budista em geral. Ele facilita bastante a compreensão das dificuldades tão comuns e constantes da vida; e aponta soluções bem simples. O Budismo me encanta por diversas razões e uma delas é essa simplicidade que de modo algum é rasa. Ontem, participei de uma dessas reuniões na qual alguém falou com eloquência que não tinha percebido a dedicação com que sua mãe passava sua roupa. Lembrei-me que os rabinos dizem al

HERMENÊUTICA ESPÍRITA

09/01/2018 Hermenêutica espírita [1] O jeito com que foi estruturada, a Doutrina Espírita esvaziou um possível e necessário exercício hermenêutico, porque Kardec, da forma mais honesta possível, tentou esgotar as dúvidas através de perguntas e respostas. À parte a intenção nobre de Kardec e sua aguda curiosidade, este modelo pedagógico trouxe um problema para os adeptos da doutrina: a indução de uma leitura pobre no exercício de pensar e ausência do debate nos grupos de estudo. Obviamente, a culpa não é dele - Kardec. As lições são colocadas aos neófitos como uma construção pronta e acabada, embora os instrutores insistam que não há fixidez na doutrina espírita, como há em outras correntes espiritualistas. No Brasil, o que era ruim ficou pior com edições de centenas de livros espíritas lançados pelo mercado editorial especializado, em sua maioria de cunho evangélico-cristão com requintes de dolorismo [2] e conformismo místico [3] . O quadro foi agravado pela baixa qua

A PÍLULA VERMELHA E O MAL-ESTAR

14/08/2019 Fui convidado para uma palestra sobre o tema “Bem-aventurados os aflitos” em um centro espírita e causei indignação a alguns ouvintes; saíram de lá bastante incomodados e apreensivos, porque esperavam um discurso que trouxesse consolo e não algo que as incomodasse tanto. Admito que a linha de raciocínio que escolhi para falar sobre o tema não foi muito agradável, embora eu tenha me colocado no centro da discussão falando sobre experiências pessoais e concluindo com algo, presumo, nada comum. Esse sintoma demonstra, de certa maneira, como os centros espíritas formam novos trabalhadores – a meu ver, pouco propensos ao debate de ideias – bloqueando talentos que procuram a casa espírita para o seu desenvolvimento psicológico-espiritual. Com isso, o centro não cumpre o papel de fonte de formação de uma massa crítica atuante no mundo. Anos atrás, ao discutir sobre essa e outras questões em um grupo de conversa chamado “Fórum Espírita” recebi a seguinte resposta