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Mostrando postagens de junho, 2025

HUMILDES E HUMILHADOS

  Pode o humilde ser humilhado? Essa pergunta é minha velha companheira. No entanto, ao ouvir um trecho do podcast Flow com a participação de Luiz Felipe Pondé, essa questão reavivou meu interesse por ela. [1] Como faço sempre, insiro um trecho do Novo Testamento como recurso didático — e, ao mesmo tempo, como uma leitura alternativa àquela que costumamos encontrar nos discursos de líderes religiosos. Isso vale inclusive para os núcleos espíritas, dado o foco deste blog que, não por acaso, tem o nome de Espiritismo Debatido . Não tenho vocação para ser um “jesuete” — um tiete de Jesus [2] . Para mim, ele foi um grande mestre que atuou na horizontalidade. Essa é, a meu ver, sua característica mais saliente. Não falava em grandes catedrais repletas de ouro e incenso, nem de um palanque elevado acima do público que o ouvia. Sua prática era ao ar livre, em contato com todo tipo de gente — desde seus amigos mais íntimos até romanos e seus cobradores de impostos, os odiados publ...

CONFLITOS - um palpite

Uma de minhas leituras atuais é de autoria de John Gray. O livro tem o título instigante A busca pela imortalidade – A obsessão humana em ludibriar a morte . Todo o espírita deveria consultá-lo. O segundo capítulo da obra começa com uma frase atribuída a Lênin (líder da revolução russa de 1917) citada no corpo deste texto. Divirta-se ou desespere-se (aqui o verbo desesperar assume o significado de “deixar de esperar”). +++++++++++++++ Ao observar os conflitos que se alastram pelo mundo, não consigo evitar certo desapontamento com algumas crenças nas quais, por muito tempo, depositei toda a minha confiança — e que hoje já não me parecem tão seguras assim. Uma delas é a crença no progresso contínuo da humanidade ao longo da história. Existe uma lenda, narrada por alguns espíritos, sobre um planeta que desenvolveu avançada capacidade tecnológica, mas permaneceu estagnado no campo ético. O desequilíbrio entre técnica e moralidade teria sido tão grande que muitos de seus habitan...

GATOS E NÓS

Em bate-papo recente, meu filho Jonas contou da visita que fez a um velho amigo. Em sua casa, vivem quatro gatos — um deles já muito velho. Este velho gatinho costuma esperar no portão a hora do passeio. Jonas conta que, quando o portão se abriu, o bichinho quase foi atropelado por não ter percebido o carro que se aproximava. Nem ouviu o chamado do tutor. Jonas lamentou a condição daquele animalzinho, que já exibe sinais evidentes da velhice e parece apenas aguardar o fim. Dessa conversa surgiram algumas reflexões que quero compartilhar com quem me lê. +++++++++++++ Traçamos ali o perfil de um animal doméstico que chegou ao limite de vida de sua espécie — gatos vivem em média 15 anos. Enquanto os filhotes dependem da mãe por cerca de 2 meses, ou seja, 1% de sua vida, o ser humano, que vive em média 73 anos, permanece dependente por cerca de 23% de sua existência, somando-se infância e adolescência — uma fase que pode ultrapassar os 17 anos. Por isso, costuma-se dizer que o ...

O QUE DIRIA KARDEC?

Inspiro-me no vídeo de Flávio Ricardo Vassoler intitulado “O que Kardec diria a Ivan Karamázov?” — uma pergunta que vai muito além do mero exercício intelectual. Ivan Karamázov, personagem d’ Os Irmãos Karamázov de Dostoiévski, representa a consciência ferida que, diante da crueldade absurda do mundo, recusa-se a aceitar uma realidade onde o sofrimento — sobretudo o das crianças — é o preço da harmonia divina. Sua revolta o leva a um gesto simbólico: “devolver a Deus o bilhete de entrada no mundo”. +++++++++++ Esse gesto extremo nos convida a uma reflexão ética radical: o espiritismo, tal como o compreendemos hoje, é capaz de enfrentar essa dor sem cair no conformismo ou na justificativa fácil do “carma” e das “provas necessárias”? Ou temos nos contentado com explicações reconfortantes que pouco dialogam com a gravidade do mal e do sofrimento real? A pergunta de Vassoler nos desafia a ir além da doutrina explicativa e adentrar o terreno da consciência ética. O que Kardec diria ...

PENSAR E COÇAR

Não tenho a obrigação de resolver as dificuldades que crio. Talvez minhas ideias sejam sempre um tanto díspares, ou até pareçam se contradizer entre si, basta que sejam ideias onde os leitores encontrem material que os incite a pensar por eles mesmos. Gotthold Lessing [1] Citado por Mateus Braga Fernandes Resenha de Hannah Arendt: pensadora da crise e de um novo início. Autoria de Eduardo Jardim. +++++++++++ Faço das palavras de Lessing as minhas. Não tenho a pretensão de doutrinar ninguém. Tenho, sim, vivo interesse de que as pessoas leiam o que escrevo de maneira atenciosa e interessada e as discutam dentro de perspectiva de investigação. O espírito investigativo é muito importante dentro em um centro espírita, ou deveria ser. Se temos um corpo doutrinário pensado e escrito na obra de Kardec, isso se deve, sem dúvida nenhuma, àquele espírito investigativo. Ficar na superfície não é pecado. A alma não vai queimar no inferno por conta dessa superficialidade – muitas v...

ESPÍRITAS E ESTATÍSTICAS

Nota necessária : Confesso, sem pudor algum e por respeito a quem me lê, que este texto foi composto a 4 mãos. Obviamente, as minhas duas mãos e as duas "mãos" virtuais da Inteligência Artificial e, por extensão, as incontáveis mãos dos programadores por trás da máquina. Para que o leitor não me desqualifique desde já, adianto que o texto original foi inteiramente concebido por mim e, a meu pedido, a IA o reescreveu de maneira muito mais enxuta, menos chata e com admirável objetividade sem prejuízo do âmago do conteúdo que escrevi. Digamos que a letra está por conta da IA; o espírito, por minha conta. Posto isto, vamos ao texto... +++++++++++++++++ Espíritas e a Crise de Adesão A matéria do Jornal GGN [ https://jornalggn.com.br/cidadania/espiritas-em-queda-livre-por-marcelo-henrique-e-marcus-braga/ ] , que fala em “queda livre” no número de espíritas no Brasil, pode parecer alarmista à primeira vista. No entanto, serve como provocação oportuna para quem deseja pensar o espir...

CONSOLO, UMA DESGRAÇA

  Calma, não se aborreça com o título*. *Teologicamente , desgraça , pode ser entendida como a ausência da graça de Deus. Estado de infelicidade derivada dessa ausência. Por extensão, essa ausência divina pode ser a ausência de liberdade ou, se quiser, a presença de um estado de dependência tão agudo em que o livre-arbítrio não funciona. [1]  ++++++++++++ Assim como Nietzsche considerou a esperança um veneno, eu estou propenso a considerar o consolo como um obstáculo ao crescimento espiritual. [2] O consolo, dentro dos cânones espíritas, tem lugar de honra. E isto vem do Cristianismo, portanto é muito antigo e solidamente instalado no coração e nas mentes dos crentes há séculos. A curtíssimo prazo, o consolo não só é bom como até necessário. Estou falando que, ao funcionar bem no curto prazo, mas a longo prazo ele pode viciar e fazer com que o sofredor aja como um bebê que grita toda vez que falta a chupeta. E não há dúvida que ela faltará para os irracionais infanti...

IMPERFEIÇÕES OU PRONTIDÕES?

Os místicos contemplavam um verme e percebiam que na questão da existência não tem sentido qualquer hierarquia na cadeia evolutiva. O verme, mesmo com sua falta de sofisticação diante da complexidade de um humano, ainda assim pode ser capaz de se fazer verme melhor do que o homem pode se fazer homem. Esse cumprir de si é tão legítimo quanto for capaz de produzir bem-estar, independentemente de qualquer hierarquia biológica. Cumprir-se e apropriar-se determina a qualidade do ser. Ter ou Não Ter, Eis a questão! Nilton Bonder Editora Campus ++++++++++ No texto que publiquei com o título VIM VI E NÃO VENCI [link abaixo], recebi comentários positivos e agradeço a presença de todos os leitores. https://espiritismosec21.blogspot.com/2025/05/vim-vi-e-nao-venci.html?m=1 Um dos comentários me chamou a atenção, onde fala da superação de nossas imperfeições. O autor se alinha perfeitamente com as bases da Doutrina Espírita.  Isso é muito louvável.  Segue abaixo o comentário:...