Qualquer conceito pelo qual o pensamento se identifica como Eu, Meu, Nosso, é essencialmente mau, separa, divide as criaturas, torna-as sumamente hostis umas para com as outras. Por amor da Pátria, da Família, da Crença, aborrecemos e odiamos o outro, o estrangeiro, o vizinho, o que não é confrade, e isto é um contra-senso, uma aberração: não podem coabitar o amor e o ódio num mesmo coração. Se coabitam, cumpre conhecê-los bem, talvez não sejam, seguramente não são, como pensamos, amor e ódio, mas coisas diferentes. Meu amor da Pátria pode ser (e na verdade é) um puro egocentrismo, um apego doentio a mim mesmo; meu ódio ao outro, o grande medo que tenho da fragilidade da noção de Pátria, com que busco me fortalecer. Ocorre o mesmo quanto às crenças ditas religiosas. Faço proselitismo, quero que todos professem o que professo, aceitem o deus ou o mistério que aceitei, porque, no consenso dos outros, me fortaleço, e na sua dissidência ou negação, me enfraqueço. Mas é precisamen
Reflexões em torno do tema "espiritualismo"